08/09/2010

A DESOBSESSÃO NOS TRABALHOS ESPIRITUAIS

volume da assistência social espírita tem crescido, ano a ano, mas nem sempre os resultados podem ser considerados satisfatórios. Por vezes, tais insucessos resultam da falta de conhecimento dos problemas que a assistência social envolve, por parte dos esforçados trabalhadores da seara. Nos arraiais espíritas, têm sobrado boa vontade e idealismo, mas raramente encontramos aqueles conhecimentos técnicos indispensáveis ao exercício de uma assistência social correta.

É hoje ponto pacífico que a assistência não pode mais se limitar a alimentar e vestir o necessitado. É indispensável conhecermos as razões que o levaram a ser um desajustado, um marginal, um infeliz e procurarmos removê-las, dentro das possibilidades. É preciso procurar reintegrar o assistido na sociedade, como elemento equilibrado e operoso. Evidentemente, é esse um trabalho cheio de dificuldades.

Dentre os assistidos, grande número apresenta perturbações mentais, causadas por obsessões de espíritos desencarnados, ou mais freqüentemente ainda, por auto-obsessões. Pois bem, tais pessoas não se beneficiarão dos cuidados a elas prestados, se antes não forem curadas de seus distúrbios psíquicos. De nada valerão ensinos e conselhos dados a quem não tem a capacidade para assimilá-los.

Na maioria das vezes, trata-se de dois espíritos que vêm associados há várias encarnações, ligados por sérios compromissos do passado. Espíritos que juntos erraram e que pesados débitos acumularam. Seres que se hostilizaram, que se lesaram um ao outro física e moralmente e que ainda conservam rancor recíproco. Por vezes, a atual vítima foi algoz do atual obsessor, na última encarnação. Assim, o obsedado nem sempre é tão sem culpa, tão injustiçado, como nos parece.

Pode tratar-se de associações que perduram por muito tempo. Forma-se uma afinidade vibratória entre ambos. Quando um se encarna, o desencarnado é por ele atraído e se aproxima. Estando ambos em etapa evolutiva vizinha, há recepção das emoções, pelo desencarnado. Compraz-se quando o outro se entrega aos vícios e às perversões. Como André Luiz nos ensina (Sexo e Destino), bebe o álcool junto com o encarnado e o estimula a tomar novas doses. Goza com seus excessos sexuais, e assim por diante.

Uma associação desse tipo não se desfaz como por encanto, mediante uma simples preleção por melhor que seja, dirigida ao espírito desencarnado. Este poderá compreender os conselhos e até querer segui-los, mas não terá forças para tanto, eis que se sente manietado, preso no âmbito vibratório de seu comparsa.

A terapêutica da obsessão consistirá muito mais em doutrinar o encarnado do que o chamado obsessor. E não se pense que tal doutrinação seja rápida e fácil. O trabalho é duro, penoso, cansativo. Poderá levar meses ou anos. Exigirá um descortino muito grande do orientador dos trabalhos, muita serenidade, muita paciência e também muito auxílio do plano espiritual. Tudo isso é necessário, porque precisaremos modificar radicalmente a mentalidade do obsedado; ajudá-lo a libertar-se de seus vícios e de suas imperfeições.

Mesmo que não se trate de uma dessas associações que vêm de um longínquo passado; mesmo que se trate de obsessores eventuais, que encontraram um homem com capacidade receptiva adequada, ainda assim não será fácil curar o obsedado. Se ele não se modificar, um obsessor será afastado, mas outros virão, na certa. A porta continuou aberta e novos visitantes chegarão.

A experiência tem mostrado que, em numerosos casos de perturbações espirituais, não há um espírito desencarnado atuando. O que existe é uma auto-obsessão. O espírito veio de outras encarnações com grandes dividas, que exigem sua remissão através da dor e de duras provas. Ele as escolhe e aceita a reencarnação. Durante a vida corporal, algumas reminiscências podem aflorar ao seu subconsciente e o indivíduo as sente como uma sensação de culpa. Nas pessoas com certo domínio emocional, essas inibições e angústias são superadas através de uma atividade construtiva. Porém, nos espíritos cuja organização perispiritual vem intoxicada pelas conseqüências das más paixões e ações do passado, aquelas reminiscências vagas passam a transtornar o equilíbrio mental. A mente se volta para si mesma, em vez de se projetar em atividades úteis. A pessoa passa a se isolar, passa a fugir dos outros e a interpretar as reações deles como hostilidade à sua pessoa. Torna-se um doente mental. Como apresenta interpretações delirantes e até alucinações auditivas e visuais, passam a considerá-lo vítima de espírito perseguidor, quando, na realidade ele é vítima do seu próprio descontrole ideativo.

Vemos, por aí, como é difícil o campo das perturbações mentais e obsessões.
A terapêutica da obsessão só poderá ser feita por equipes de espíritas que tenham profundos conhecimentos doutrinário e alto valor moral. Só assim poderão receber, no momento oportuno, o precioso auxilio que os nossos instrutores desencarnados nos podem dar. Mas querer enfrentar o problema sem estar devidamente aparelhado é caminhar para o fracasso e o ridículo.

É indispensável que trabalhos de desobsessão muito bem orientados, sejam incorporados às tarefas de assistência social espírita. Os assistidos receberão os cuidados que seu organismo necessitar, mas simultaneamente deveremos nos preocupar com a recuperação das mentes enfermas, que existem em tão alta porcentagem entre os infelizes que batem às portas das instituições espíritas.

Transcrição de Sebastião Bugolin 2010