As Umbandas
“ Sabemos que existem várias correntes de pensamento dentro da Umbanda
e também muitas formas de prática-lá, ainda que todas se mantenham fiéis à
participação dos espíritos nos seus trabalhos ou sessões. Não consideramos
nenhuma das correntes melhor ou pior, nem mais ou menos importante para a
consolidação da Umbanda.Todas foram, são e sempre serão importantes, pois só
assim não se estabelecerá um domínio e uma paralisia geral na assimilação e
incorporação de novas práticas ou conceitos renovadores.
Há quem defenda um ‘tipo ideal’ de Umbanda, descartando outras formas de
praticá-la; assim, alguns reconhecem e outros negam as várias Umbandas. Creio
que podemos trilhar um caminho do meio, no qual a Umbanda é uma, com uma
liberdade litúrgica que lhe permite certas variantes, desde que estas não
desvirtuem
seus fundamentos básicos. A pluralidade deve existir enquanto não colocar em
risco
a unidade. Por exemplo, faz parte de seus fundamentos básicos, portanto de sua
unidade, não cobrar pelos trabalhos; logo, ela pode ter variantes, mas
nenhumadelas deve cobrar para realizar trabalhos espirituais. Logo, falar de
Umbanda é falar
de sua unidade, assim como falar de Umbandas é falar de sua pluralidade. Abaixo
apresento algo dessa pluralidade para nossa reflexão:
Umbanda Branca:
Umbanda,
que a Umbanda era uma ‘Linha’ do Espiritismo ou forma de praticar Espiritismo,
na
qual a Linha Branca se divide em outras sete linhas. Considerar a Umbanda como
Branca subentende-se muitas coisas, entre elas, que possa haver outras umbandas,
de outras cores e ‘sabores’. Mas a questão de ser branca está muito mais ligada
ao
fato de associar ao que é ‘claro’, ‘limpo’, leve’ ou simplesmente ausente do
‘preto’,
‘escuro’ ou ‘negro’ – há um preconceito subentendido -, afinal é uma Umbanda
mais
‘branca’ que ‘negra’, mais européia que afro e, porque não, mais Espírita.
Geralmente, usa-se esta qualificação, ‘Umbanda Branca’, para definir trabalhos
de
Umbanda com a ausência do que chamamos de “Linha da Esquerda’, para Leal de
Souza uma ‘Linha Negra’. Ainda hoje, muitos se identificam dessa forma e,
geralmente, usam isso como um ‘recurso’ para ‘livrar-se’ do preconceito de
outros,
como dizer:
pertencer à ‘Umbanda boa’. Não há uma ‘Umbanda Negra’ ou ‘Umbanda Ruim’, toda
Umbanda é boa.
O termo pode ter surgido da definição de Linha Branca deusada por Leal de Souza
e adotada por tantos outros. A idéia seria deSou Umbandista, mas da Umbanda
Branca – como quem afirmaUmbanda Pura:
grupo que assumiu essa responsabilidade esperava apresentar uma ‘Umbanda
Pura’ (‘desafricanizada’ e ‘orientalizada’), presente na classe média do Rio de
Janeiro. É a Umbanda praticada pelo ‘grupo fundador da Umbanda’ ou
simplesmente o grupo intelectual carioca que lutou pela legitimação da Umbanda,
criando a Primeira Federação Espírita de Umbanda do Brasil, o Primeiro Congresso
Brasileiro do Espiritismo e o Primeiro Jornal de Umbanda. Esse grupo pretendia
uma
‘codificação’ da Umbanda em seu estado mais algo a ser questionado,
independentemente de qual tradição lhe tenha dado origem, pois por trás de uma
cultura sempre há outras culturas, sucessivamente, desde que o Homem é Ao propor
o Primeiro Congresso de Umbanda em 1941, osapiense
Umbanda Popular:
conhecimento de causa, sem estudo ou interesse em entender seus fundamentos. É
uma forma de religiosidade na qual vale apenas o que é dito e ensinado de forma
direta pelos espíritos. O único conhecimento válido se costuma fazer referência
aÉ a pratica da religião de Umbanda sem muitooutras filosofias ou justificar
suas práticas de forma ‘intelectualizada’. Eximindo-se de
autoexplicar-se, reforçam a característica mística da religião, em que,
independentemente de ‘racionalizações’, a prática se sustenta em razão da
quantidade de resultados positivos alcançados. Podemos dizer que os adeptos,
muitas vezes, não sabem ou não tem certeza de como as coisas funcionam, mas
sabem que funcionam. É aqui que muitas vezes deparamos com médiuns que
afirmam, sobre a Umbanda, que não sabem de nada do que estão fazendo, mas que
seus guias espirituais (Caboclo e outros) sabem, e isto lhe basta.
Outrora, alguns afirma que médium não pode saber de nada de Umbanda,
para não mistificar. Muitos caem na armadilha do tempo, em que o jovem de
outrora
agora já sabe de muita coisa que finge não saber, para manter essa idéia de que
nada sabe. Enfim, para nós acreditarmos no estudo dentro da religião, é muito
difícil
abordar um seguimento que não se interessa pela leitura, embora deve-se
reconhecer, para não incorrer no erro, que muitos estudam e conhecem muito das
realidades espirituais que nos cercam e ainda assim preferem manter-se junto de
uma forma ‘pura’ de contato espiritual desintelectualizado.
Umbanda Tradicional:
Branca’, ‘Umbanda Pura’ ou ‘Umbanda Popular’, que são formas mais antigas, mais
conhecidas e mais populares de praticar Umbanda, muito embora esse perfil esteja
mudando. Creio que hoje os terreiros que se adaptaram a uma linguagem mais
jovem, mais intelectualizada e racional estão em franco crescimento, tendo em
vista
que no local de desinformação e/ou bagunça a Umbanda ainda vai secar; e nesse
mesmo solo vai ressurgir novas gerações: crianças que em algum momento,
visitaram um terreiro. Essa criança de ontem, adultos de hoje, podem nos dizer o
quanto foi importante o trabalho da linha das Crianças para a multiplicação da
religião. Tantos se perguntam como criar cursos para as crianças na Umbanda,
como um ‘catecismo’ de Umbanda, ou Umbanda para crianças, preocupados em
como preparar e ensinar religião a nossos filhos. Se os terreiros mantivessem um
trabalho periódico com a incorporação das Crianças espirituais (Erês), bastava
que
este se tornasse o dia de nossos filhos na Umbanda, e nesse dia nossos filhos
aprenderiam sobre Umbanda direto com essas entidades. A curiosidade levaria
nossos filhos a questionar e querer aprender mais sobre a Religião... Portanto,
a
idéia de estudar Umbanda está na base de crescimento e multiplicação da
mesma.Essa qualificação serve para identificar a ‘Umbanda
Umbanda esotérica ou Iniciática:
estudando os fundamentos ocultos, conhecidos apenas dos antigos sacerdotes
egípcios, hindus, maias, incas, astecas, etc. O conhecimento esotérico (fechado)
dos arcanos sagrados, desvelado por meio de iniciações. Foi idealizado com
inspiração na obra de Blavatsky, Ane Bessant, Saint-Yves D’ Alveydre, Leterre,
Domingos Magarinos (Epiaga), Eliphas Levi, Papus, etc. Os fundamentos esotéricos
da Umbanda foram organizados pela Tenda Espírita Mirim e apresentados, alguns
deles, no Primeiro Congresso Brasileiro de Espiritismo de Umbanda.
O primeiro autor que trouxe esse tema para a literatura umbandista foi
Oliveira Magno, 1951, com o título
contribuições de Tata Tancredo e Aluizio Fontenele. A primeira Escola Iniciática
Umbandista foi o Primado de Umbanda, mais uma iniciativa do Caboclo Mirim. Já na
segunda e terceira geração de autores Umbandistas surgirão alguns que
consideram esse movimento como o único a expressar uma verdade na qual todo o
restante faria uma convergência; algo que remonta a idéia de evolução, pois
quando
toda a Umbanda e até alguns cultos afro-brasileiros evoluíssem, finalmente, se
identificariam com a
umbandistas. Portanto, fica nosso respeito a todas as formas de praticar
Umbanda,
mas que nossa palavra seja forte e incisiva ao afirmar que não existem eleitos
detentores da verdade. Existem sim algumas variantes dentro do que pode ser
considerado Umbanda, e outras que se colocam à margem de seus fundamentos de
caridade e religião brasileira.
É uma forma de praticar a UmbandaA Umbanda Esotérica e Iniciática. (...)
recebeuUmbanda Esotérica, o que ainda hoje é a verdade de muitosUmbanda Traçada,
Mista e Omolocô:
uma Umbanda praticada com influência maior dos Cultos de Nação ou do
Candomblé brasileiro, em que se combinam os fundamentos e os preceitos oriundos
das culturas africanas com as entidades de Umbanda. Pode-se ter os tradicionais
rituais de Camarinha, Bori, Ebós e oferenda de animais com seus respectivos
sacrifícios. Muitos chamam essa variação de
sacerdote e presidente da Federação que mais defendeu a origem africana de
Umbanda foi Tata Tancredo. Autor de inúmeros títulos de Umbanda, ele publicou
seu primeiro livro,
Torres de Freitas, sendo defensor da variação chamada Omolocô, da qual é seu
idealizador no Brasil. Para muitos, Omolocô é outra religião e não apenas umSão
nomes usados para identificarUmbandomblé. O autor, médium,Doutrina e ritual de
Umbanda, 1951, em parceria com Byronseguimento da Umbanda, mas apenas os adeptos
do Omolocô podem dizer qual é a
sua pertença, por mais que se concorde ou discorde de seus fundamentos.
Umbanda de Caboclo:
presença do Caboclo, muitas vezes acreditando que a Umbanda é, antes de mais
nada, a prática dos índios brasileiros revista pela cultura moderna e doutrina
com
conceitos que foram sendo absorvidos com o tempo. Decelso escreveu o títuloÉ uma
variação de Umbanda em que prevalece aUmbanda de Caboclo
Umbanda de Jurema:
Catimbó ou Linha dos Mestres da Jurema, que combina a cultura indígena com a
cultura católica, somando valores da magia européia e, de vez em quando, algo da
cultura afro. O principal fundamento é o uso da Jurema Sagrada, como bebida e
também misturada no fumo, que vai ao fornilho tradicional cachimbo, também
chamado de ‘marca’, feito de Jurema ou Angico. As entidades que se manifestam
são chamadas de Mestres da Jurema. A Umbanda herdou a manifestação do Mestre
Zé Pelintra, que pode vir como Exu, Baiano, Preto-Velho ou Malandro. Quando se
combina os fundamentos de Umbanda e Catimbó, temos essa modalidade, que
pode ser uma Umbanda regional de Pernambuco ou pratica de forma intencional
pelo umbandista que se interessou pela Jurema e descobriu a Linha de Mestres
dentro de sua Umbanda.
No Nordeste, existe um culto popular chamadoUmbandaime:
uma variação da Ayuasca que é um chá preparado com duas ervas de poder, o cipó
Mariri e a folha da Chacrona. De tanto ter visões de entidades de Umbanda e
Orixás
em rituais do Daime, alguns grupos de umbandistas passaram a praticar o
Umbandaime, ou seja, trabalhos de Umbanda ingerindo o Daime ou fazendo os
rituais de Ayuasca, para se comunicar com as entidades de Umbanda. A Umbanda
em si não tem seus fundamentos o uso de bebidas enteógenas, fora os tradicionais
café, cerveja, vinho, ‘pinga’, batida de coco, e outros, que servem apenas como
‘curiador’ (elemento usado para potencializar alguma ação espiritual ou
magistica.
Cada linha de trabalho tem sua ‘bebida-curiador’, entretanto, nem a bebida nem o
fumo são carregados de erva que induza ao estado de transe. A própria bebida
deve
ser controlada. Podem, no entanto, ser consideradas bebidas de poder, como o
‘vinho da jurema’; contudo, a bebida não é o centro do ritual, e sim um elemento
auxiliar. No caso do Daime, este está no centro do culto, o poder que se
manifestaO Santo Daime é uma religião nativa do Amazonas, sendopor meio do chá é
que conduz o adepto. Na Umbanda, quem conduz o trabalho são
os espíritos guias, com ou sem Daime.
Umbanda Eclética:
pouco, fazendo, por exemplo, uma bricolagem de Orixás com Mestres
Ascensionados e divindades. Recorrem à conhecida Linha do Oriente para
justificar
a presença de tantos elementos diferentes do Oriente e Ocidente junto do
esoterismo, ocultismo e misticismo.
Chama-se eclética a Umbanda que mistura de tudo umUmbanda Sagrada ou Umbanda
Natural:
dar palestras, Rubens Saraceni sempre dizia que fazia questão de se referir à
Umbanda como Sagrada. Não havia intenção de criar uma nova Umbanda, apenas
ressaltar uma qualidade inerente à mesma. Na apresentação de seu primeiro título
doutrinário
livro em questão guarda uma coerência bastante grande,
termo entre o popular e o iniciático, ou entre o exotérico e o esotérico.
de Umbanda,
Analógica, Numerológica, Oculta, Aberta, Popular, Branca, Iniciática, Teosófica,
Exotérica e Esotérica. Para então afirmar que:
Orixás, que são senhores dos mistérios naturais, os quais regem todos os pólos
umbandistas aqui descritos. Muitos optam por substituir a designação de ‘Ritual
de
Umbanda Sagrada’, dada a Umbanda Natural [...].
Umbanda é algo natural e sagrado, adjetivos que se aplicam ao todo da Umbanda e
não a um segmento em particular. No livro
as várias ‘Umbandas’ e comenta que,
seguimentações dentro da religião Umbandista [...].
criar novas abordagens para outros tantos, criando uma Teologia de Umbanda.
Seus conceitos se expandiram muito rapidamente, assim como a
popularidade de títulos como Quando começou a psicografar eUmbanda: o ritual do
culto à Natureza, publicado em 1995, afirma que oo de trilhar em um meioJá no
Códigono capítulo ‘Umbanda Natural’, cita: Umbanda Astrológica,
Filosófica,Natural é a Umbanda regida pelosFica claro que, para o autor, aAs
sete linhas de Umbanda, volta a citarna verdade, e a bem da verdade, tudo
sãoAinda assim, sem a intenção deO guardião da meia-noite e Cavaleiro da estrela
guia.Sua forma de apresentar, entender e explicar a Umbanda foi identificada ou
rotulada
de
um Todo também chamado de
Umbanda Cristã:
no Caboclo das Sete Encruzilhadas a entidade que lançou seus fundamentos
básicos. Logo na primeira manifestação, essa entidade já esclareceu que havia
sido,
em uma de suas encarnações, o frei Gabriel de Malagrida, um sacerdote cristão
queA Umbanda, fundada no dia 15 de novembro de 1908, temqueimado na ‘Santa
Inquisição’ por ter previsto o terremoto de Lisboa, sendo que,
posteriormente, havia nascido como índio no Brasil.
Ao dizer qual seria o nome do primeiro templo da religião, Tenda Espírita
Nossa Senhora da Piedade, porque ‘assim como Maria acolheu Jesus, Da mesma
forma a Umbanda acolheria seus filhos’, já dava uma diretriz cristã à nova
religião.
Há um conto sobre o Caboclo das Sete Encruzilhadas que diz ter sido chamado por
Maria, Mãe de Jesus, para semear a nova religião.
Todo trabalho e doutrina de Zélio de Moraes tem esse perfil cristão,
subentendendo Umbanda Cristã, antes de ser ‘Umbanda Branca’ ou ‘Umbanda
Pura’, outros adjetivos que foram associados à sua forma de praticá-la.
Jota Alves de Oliveira crê na Umbanda Cristã e nos apresenta uma reflexão
sobre essa forma de entender a Umbanda no Livro
No mesmo livro encontramos as palavras do Caboclo das Sete Encruzilhadas,
gravadas por Lilia Ribeiro em novembro de 1971, em fica claro a relação de
importância cristã da Umbanda propagada por Zélio de Moraes, como vemos a
seguir:
Tenho uma coisa a vos pedir: se Jesus veio ao Planeta Terra na humilde
manjedoura, não foi por acaso. Assim o Pai determinou. Podia ter procurado a
casade um potentado da época, mas foi escolher aquela que havia de ser Sua Mãe,
esse
espírito que viria traçar à humanidade os passo para obter paz, saúde e
felicidade.
Que o nascimento de Jesus, a humildade em que ele baixou à Terra, a estrela
que iluminou aquele estábulo, sirvam de exemplos, iluminando os vossos
espíritos,
tirando os escuros da maldade por pensamento, por práticas e ações; que Deus
perdoe as maldades que possam ter sido pensadas, para que a paz possa reinar
emOutro elemento que endossa a qualidade cristã da Umbanda é o arquétipo
dos Pretos-Velhos, que são ex-escravos batizados como nomes católicos e que
trazem muita fé em Cristo, nos Santos e Orixás.
As qualidades cristãs e a presença dos santos católicos confortam e
tranqüilizam quem entra pela primeira vez em um templo umbandista, muito embora
não se limitam a adornos, e sim a uma presença espiritual dos mesmos.”
Cumino, Alexandre. HISTÓRIA DA UMBAN DA: Uma Religião brasileira. São Paulo,
Madras, 2010. Pág.82
a 89
vossos corações e nos vossos lares [...].
A Umbanda com a qual nos identificamos é aquela que tem finalidades
elevadas e educativas, onde se recomenda a reforma e a lei de amor ao próximo.
Onde se aconselha o perdão e não se atiça o consulente à luta, ao acirramento.
Onde já foi substituído o olho por olho, de Moisés, pelo ensino de Jesus: quem
com
o ferro fere com o ferro será ferido, que corresponde a outro ensinamento: com a
mesma medida que medires sereis medidos. De modo que, além do passe e do
conselho, ou da corrente de descarga, o adepto ou simpatizante tenha em vista a
sua reforma, a sua melhoria, tanto moral-espiritual como material, em sentido de
seu
aperfeiçoamento.
A Orientação Doutrinária do evangelizado Espírito do Caboclo das Sete
Encruzilhadas nos levou a considerar e historiar seu trabalho enriquecido das
lições
do evangelho de Jesus, com a legenda: Umbanda Cristã e brasileira.Umbanda Cristã
e brasileira:Umbanda Sagrada. Palavra que para este autor engloba toda a
Umbanda, comoUmbanda Natural.para explicar essa variação de Umbanda.religiosus.
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