24/08/2011

O NOVO PODER DO SANTO DAIME



Novo Poder do Santo Daime

 – Jornal do Comercio – Recife, 17 de agosto de 2011 (Quarta – feira)


A série sobre projeto na área de neurociências no Rio Grande
do Norte, de Verônica Falcão, aborda hoje estudos inéditos sobre o chá do Santo
Daime e a epilepsia, além de levantar o debate sobre a ética em estudos com
animais. Amanhã, o destaque será a ação na área de inclusão social.

Depois de comprovar que o Santo Daime, chá usado em rituais
religiosos, provoca visões, pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte (UFRN) descobriram que a bebida também tem ação antidepressiva.
O estudo, em colaboração com a USP de Ribeirão Preto,
analisou os efeitos da mistura em quatro pacientes adultos, de ambos os sexos. “Essa
foi uma experiência piloto. Agora, vamos ampliar os testes clínicos para um
numero maior de pacientes”, adianta o físico Dráulio Barros de Araújo,
coordenador de pesquisa e integrante do Instituto de Cérebro da UFRN.
O voluntários serão selecionados entre pacientes do Hospital
Universitário Onofre Lopes, da UFRN, “No início de 2012, devemos começar a nova
etapa de estudos”, adianta Dráulio. As pesquisas sobre os efeitos do Santo
Daime no cérebro utilizam técnicas de Ressonância Magnética Nuclear (RMN) e
envolvem, ainda, equipe da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Como pretendem publicar os estudos em revistas cientificas,
que exigem ineditismo dos dados, o pesquisador prefere não detalhar os
mecanismos de ação do chá, também chamado de ayahuasca, como antidepressivo.
Estudos anteriores indicam que o Santo Daime aumenta a
liberação no cérebro da serotonina, neurotransmissor relacionado ao controle do
humor.
A bebida é mistura de folha do arbusto chacrona (Psychotria
viridis) e do cipó mariri (Banisteriopsis caapi), espécies da floresta
amazônica. A dimetriltriptamina (DMT) – principío ativo do chá – tem origem no
arbusto. Mas é uma substância chamada betacorbilina, presente no cipó, que
permite a absorção da DMT pelo organismo.
“A betacarbolina quebra, no nosso estômago, uma enzina que
inibe a absorção da DMT”, diz o biólogo José Arturo Costa Escobar, que estuda o
Santo Daime para sua tese de doutorado em psicologia cognitiva pela
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
José Arturo analisa os efeitos da bebida no comportamento
dos parcientes de rituais religiosos que fazem uso da ayahuasca. Por meio de questionários,
ele tenta detectar sinais de transtornos com ansiedade e depressão.
Resultados preliminares indicam que a depressão não é
frequente entre os adeptos não é  frequente entre os adeptos do Santo Daime. “Ainda estou tabulando os
dados, mas é possível adiantar que os sinais da doença são raros, o que pode
sugerir um efeito do psicoativo sobre a serotonina”, resume José Arturo.
Para Joaquim Souza Leão, diretor de um grupo religioso de
Pernambuco que faz uso do chá, pesquisas como a da UFRN e da UFPE ajudam a
desmistificar o Santo Daime. “Os estudos são positivos porque embasam cientificamente
o que é relatado na prática”, diz o dirigente da Igreja do Céu de São Lourenço
da Mata.
Originalmente consumido pelos indígenas sul-americanos, o
chá, segundo Joaquim, leva a uma dimensão espirutal. “O objetivo principal é o
autoconhecimento, a busca pelo equilíbrio do corpo e da mente.”
Os efeitos, que surgem de 30 minutos a uma hora após a
ingestão da bebida, duram de quatro a cinco horas.

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