25/05/2012

EGO - O FALSO CENTRO

EGO - O FALSO CENTRO - por OshoO primeiro ponto a ser compreendido é o ego.

Uma criança nasce sem qualquer conhecimento, sem qualquer consciência de seupróprio eu. E quando uma criança nasce, a primeira coisa da qual ela se tornaconsciente não é ela mesma; a primeira coisa da qual ela se torna consciente é ooutro. Isso é natural, porque os olhos se abrem para fora, as mãos tocam os outros,os ouvidos escutam os outros, a língua saboreia a comida e o nariz cheira oexterior.Todos esses sentidos abrem-se para fora.O nascimento é isso.

Nascimento significa vir a esse mundo: o mundo exterior.Assim, quando uma criança nasce, ela nasce nesse mundo.Ela abre os olhos e vê os outros. O outro significa o tu. Ela primeiro se tornaconsciente da mãe.Então, pouco a pouco, ela se torna consciente de seu própriocorpo. Esse também é o 'outro', também pertence ao mundo. Ela está comfome e passa a sentir o corpo; quando sua necessidade é satisfeita, ela esquece o corpo.É dessa maneira que a criança cresce.

Primeiro ela se torna consciente do você, do tu, do outro, e então, pouco a pouco,contrastando com você, com tu, ela se torna consciente de si mesma.Essa consciência é uma consciência refletida. Ela não está consciente dequem ela é. Ela está simplesmente consciente da mãe e do que ela pensa a seurespeito. Se a mãe sorri, se a mãe aprecia a criança, se diz 'você é bonita', se elaa abraça e a beija, a criança sente-se bem a respeito de si mesma.Assim, um ego começa a nascer.

Por meio da apreciação, do amor, do cuidado, ela sente que é ela boa, ela senteque tem valor, ela sente que tem importância. Um centro está nascendo.Mas esse centro é um centro refletido. Ele não é o ser verdadeiro.A criança não sabe quem ela é;ela simplesmente sabe o que os outros pensa a seu respeito.E esse é o ego: o reflexo, aquilo que os outros pensam.Se ninguém pensa que ela tem alguma utilidade, se ninguém a aprecia,se ninguém lhe sorri, então, também, um ego nasce - um ego doente, triste,rejeitado, como uma ferida, sentindo-se inferior, sem valor.Isso também é ego.Isso também é um reflexo.

Primeiro a mãe. A mãe, no início, significa o mundo. Depois os outros se juntarão àmãe, e o mundo irá crescendo. E quanto mais o mundo cresce, mais complexo oego se torna, porque muitas opiniões dos outros são refletidas.

O ego é um fenômeno cumulativo, um subproduto do viver com os outros.Se uma criança vive totalmente sozinha, ela nunca chegará a desenvolver umego. Mas isso não vai ajudar. Ela permanecerá como um animal. Isso nãosignifica que ela virá a conhecer o seu verdadeiro eu, não.

O verdadeiro só pode ser conhecido por meio do falso, portanto,o ego é uma necessidade.Temos que passar por ele. Ele é uma disciplina. O verdadeiro sópode ser conhecido por meio da ilusão. Você não pode conhecer a verdadediretamente. Primeiro você tem que conhecer aquilo que não é verdadeiro.Primeiro você tem que encontrar o falso. Por meio desse encontro, você se tornacapaz de conhecer a verdade.Se você conhece o falso como falso, a verdade nascerá em você.

O ego é uma necessidade; é uma necessidade social, é um subproduto social.A sociedade significa tudo o que está ao seu redor, não você, mas tudo aquiloque o rodeia. Tudo, menos você, é a sociedade. E todos refletem. Você irá àescola e o professor refletirá quem você é. Você fará amizade com as outrascrianças e elas refletirão quem você é. Pouco a pouco, todos estarão adicionandoalgo ao seu ego, e todos estarão tentando modificá-lo, de modo que você nãose torne um problema para a sociedade.

Eles não estão interessados em você.Eles estão interessados na sociedade.A sociedade está interessada nela mesma, e é assim que deveria ser.Eles não estão interessados no fato de que você deveria se tornar um conhecedor de si mesmo. Interessa-lhes que você se torne uma peçaeficiente no mecanismo da sociedade. Você deveria ajustar-se ao padrão.

Assim, estão interessados em dar-lhe um ego que se ajuste à sociedade.Ensinam-lhe a moralidade. Moralidade significa dar-lhe um ego que se ajuste àsociedade. Se você for imoral, você será sempre um desajustado em um lugarou outro...

Moralidade significa simplesmente que você deve se ajustar à sociedade.Se a sociedade estiver em guerra, a moralidade muda. Se a sociedade estiverem paz, existe uma moralidade diferente.A moralidade é uma política social.É diplomacia. E toda criança deve ser educada de tal forma que ela se ajuste àsociedade; e isso é tudo, porque a sociedade está interessada em membroseficientes. A sociedade não está interessada no fato de que vocêdeveria chegar ao auto-conhecimento.

A sociedade cria um ego porque o ego pode ser controlado e manipulado.O eu nunca pode ser controlado e manipulado. Nunca se ouviu dizer que asociedade estivesse controlando o eu - não é possível. E a criança necessita deum centro; a criança está absolutamente inconsciente de seu próprio centro.A sociedade lhe dá um centro e a criança pouco a pouco fica convencida de queesse é o seu centro, o ego dado pela sociedade.

Uma criança volta para casa. Se ela foi o primeiro lugar de sua sala, a famíliainteira fica feliz. Você a abraça e beija; você a coloca sobre os ombros e começaa dançar e diz 'que linda criança! você é um motivo de orgulho para nós.'Você está dando um ego para ela, um ego sutil. E se a criança chega em casaabatida, fracassada, foi um fiasco na sala - ela não passou de ano ou tirou oúltimo lugar, então ninguém a aprecia e a criança se sente rejeitada.Ela tentará com mais afinco na próxima vez, porque o centro se sente abalado.

O ego está sempre abalado, sempre à procura de alimento, de alguém que oaprecie. E é por isso que você está continuamente pedindo atenção.Você obtém dos outros a idéia de quem você é.Não é uma experiência direta.É dos outros que você obtém a ideia de quem você é.Eles modelam o seu centro. Mas esse centro é falso, enquanto que o centroverdadeiro está dentro de você. O centro verdadeiro não é da conta de ninguém.Ninguém o modela. Você vem com ele. Você nasce com ele.

EGO O FALSO CENTRO (2)Assim, você tem dois centros. Um centro com o qual você vem, que lhe é dadopela própria existência. Esse é o eu. E o outro centro, que é criado pela sociedade- o ego. Esse é algo falso - é um grande truque. Por meio do ego a sociedadeestá controlando você. Você tem que se comportar de uma certa maneira,porque somente assim a sociedade irá apreciá-lo.

Você tem que caminhar de uma certa maneira; você tem que rir de uma certamaneira; você tem que seguir determinadas condutas, uma moralidade, umcódigo. Somente assim a sociedade o apreciará, e se ela não o fizer, o seu egoficará abalado.E quando o ego fica abalado, você já não sabe onde está, você jánão sabe quem você é.

Os outros deram-lhe a idéia. E essa idéia é o ego. Tente entendê-lo o maisprofundamente possível, porque ele tem que ser jogado fora. E a não ser quevocê o jogue fora, nunca será capaz de alcançar o eu. Por estar viciado no falsocentro, você não pode se mover, e você não pode olhar para o eu.E lembre-se: vai haver um período intermediário, um intervalo, quando o ego estará se despedaçando, quando você não saberá quem você é, quando você nãosaberá para onde está indo; quando todos os limites se dissolverão.Você estará simplesmente confuso, um caos.

Devido a esse caos, você tem medo de perder o ego.Mas tem que ser assim.Temos que passar através do caos antes de atingir o centro verdadeiro.E se você for ousado, o período será curto. Se você for medroso e novamente cairno ego, e novamente começar a ajeitá-lo, então, o período pode ser muito, muitolongo; muitas vidas podem ser desperdiçadas...

Até mesmo o fato de ser infeliz lhe dá a sensação de "eu sou".Afastando-se do que é conhecido, o medo toma conta;você começa sentir medo da escuridão e do caos - porque a sociedade conseguiuclarear uma pequena parte de seu ser... É o mesmo que penetrar numa floresta.Você faz uma pequena clareira, você limpa um pedaço de terra, você faz umcercado, você faz uma pequena cabana;você faz um pequeno jardim, um gramado, e você sente-se bem.Além de sua cerca - a floresta, a selva. Mas aqui dentro tudo está bem:você planejou tudo.

Foi assim que aconteceu. A sociedade abriu uma pequena clareira em suaconsciência. Ela limpou apenas uma pequena parte completamente, e cercou-a.Tudo está bem ali. Todas as suas universidades estão fazendo isso.Toda a cultura e todo o condicionamento visam apenas limpar uma parte, paraque ali você possa se sentir em casa.

E então você passa a sentir medo.Além da cerca existe perigo.

Além da cerca você é, tal como você é dentro da cerca - e sua mente conscienteé apenas uma parte, um décimo de todo o seu ser.Nove décimos estão aguardando no escuro. E dentro desses nove décimos,em algum lugar, o seu centro verdadeiro está oculto.

Precisamos ser ousados, corajosos.

EGO - O FALSO CENTRO (3)Precisamos dar um passo para o desconhecido.

Por um certo tempo, todos os limites ficarão perdidos. Por um certo tempo,você vai se sentir atordoado. Por um certo tempo, você vai se sentir muitoamedrontado e abalado, como se tivesse havido um terremoto.

Mas se você for corajoso e não voltar para trás, se você não voltar a cair no ego,mas for sempre em frente, existe um centro oculto dentro de você, um centro quevocê tem carregado por muitas vidas.Esse centro é a sua alma, o eu.

Uma vez que você se aproxime dele, tudo muda, tudo volta a se assentarnovamente. Mas agora esse assentamento não é feito pela sociedade.Agora, tudo se torna um cosmos e não um caos, nasce uma nova ordem.Mas essa não é a ordem da sociedade- essa é a própria ordem da existência.

É o que Buda chama de Dhamma, Lao Tzu chama de Tao, Heráclito chama deLogos. Não é feita pelo homem. É a própria ordem da existência.Então, de repente tudo volta a ficar belo, e pela primeira vez, realmente belo,porque as coisas feitas pelo homem não podem ser belas.No máximo você pode esconder a feiúra delas, isso é tudo.Você pode enfeitá-las, mas elas nunca podem ser belas...

O ego tem uma certa qualidade: a de que ele está morto.Ele é de plástico.E é muito fácil obtê-lo, porque os outros o dão a você.Você não precisa procurar por ele; a busca não é necessária.Por isso, a menos que você se torne um buscador à procura do desconhecido,você ainda não terá se tornado um indivíduo. Você é simplesmente mais umna multidão. Você é apenas uma turba.Se você não tem um centro autêntico, como pode ser um indivíduo?O ego não é individual.O ego é um fenômeno social - ele é a sociedade, não é você.Mas ele lhe dá um papel na sociedade, uma posição na sociedade. E se vocêficar satisfeito com ele, você perderá toda a oportunidade de encontrar o eu.E por isso você é tão infeliz. Como você pode ser feliz com uma vida de plástico?Como você pode estar em êxtase ser bem-aventurado com uma vida falsa?

E esse ego cria muitos tormentos. O ego é o inferno. Sempre que vocêestiver sofrendo, tente simplesmente observar e analisar, e você descobriráque, em algum lugar, o ego é a causa do sofrimento.E o ego segue encontrando motivos para sofrer...E assim as pessoas se tornam dependentes, umas das outras.É uma profunda escravidão. O ego tem que ser um escravo.Ele depende dos outros. E somente uma pessoa que não tenha ego é, pelaprimeira vez, um mestre; ele deixa de ser um escravo.

Tente entender isso. E comece a procurar o ego - não nos outros, isso não é da suaconta, mas em você. Toda vez que se sentir infeliz, imediatamente feche os olhose tente descobrir de onde a infelicidade está vindo, e você sempre descobriráque o falso centro entrou em choque com alguém.

Você esperava algo e isso não aconteceu. Você espera algo e justamente ocontrário aconteceu - seu ego fica estremecido, você fica infeliz.Simplesmente olhe, sempre que estiver infeliz, tente descobrir a razão.

As causas não estão fora de você.

A causa básica está dentro de você - mas você sempre olha para fora, vocêsempre pergunta:'Quem está me tornando infeliz?''Quem está causando a minha raiva?''Quem está causando a minha angústia?'

Se você olhar para fora, você não perceberá.Simplesmente feche os olhos e sempre olhe para dentro.A origem de toda a infelicidade, da raiva e da angústia, está oculta dentro de você,é o seu ego.

E se você encontrar a origem, será fácil ir além dela.Se você puder ver que é o seu próprio ego que lhe causa problemas, você vaipreferir abandoná-lo - porque ninguém é capaz de carregar a origem da infelicidade, uma vez que a tenha entendido.

Mas lembre-se, não há necessidade de abandonar o ego.Você não o pode abandonar.E se você tentar abandoná-lo, simplesmente estará conseguindo um outroego mais sutil, que diz: 'tornei-me humilde'...

Todo o caminho em direção ao divino, ao supremo, tem que passar através desseterritório do ego. O falso tem que ser entendido como falso. A origem damiséria tem que ser entendida como a origem da miséria - então ela simplesmente desaparece.Quando você sabe que ele é o veneno, ele desaparece.Quando você sabe que ele é o fogo, ele desaparece.Quando você sabe que esse é o inferno, ele desaparece.

E então você nunca diz: 'eu abandonei o ego'. Você simplesmente irá rir de todaessa história, dessa piada, pois você era o criador de toda essa infelicidade...É difícil ver o próprio ego. É muito fácil ver o ego nos outros.Mas esse não é o ponto, você não os pode ajudar.

Tente ver o seu próprio ego. Simplesmente o observe.

Não tenha pressa em abandoná-lo, simplesmente o observe.Quanto mais você observa, mais capaz você se torna. De repente, um dia, vocêsimplesmente percebe que ele desapareceu. E quando ele desaparece por simesmo, somente então ele realmente desaparece.Porque não existe outra maneira.Você não pode abandoná-lo antes do tempo.Ele cai exatamente como uma folha seca.

Quando você tiver amadurecido através da compreensão, da consciência, etiver sentido com totalidade que o ego é a causa de toda a sua infelicidade, um diavocê simplesmente vê a folha seca caindo...E então o verdadeiro centro surge.

E esse centro verdadeiro é a alma, o eu, o deus, a verdade, ou como quiser chamá-lo. Você pode lhe dar qualquer nome, aquele que preferir.

Osho, em "Além das Fronteiras da Mente"

Fonte: Osho Brasil-http://www.palavrasdeosho.com/



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