22/01/2013

plantas que curam!!



As sete plantas do mau-olhado
Edição 274 - Ago/08

O PAI-DE-SANTOFrancisco Tenente, o Francisco D´Xangô, entre auxiliares: "Prevenção ajuda a evitar mau-olhado"
Pra fazer esta reportagem para o programa Globo Rural-TV, fomos a uma rua central de São Paulo, onde passam milhares de pessoas por hora, perguntar sobre quem acredita em mau-olhado. A maioria dizia seco: Acredito! De cada cinco pessoas, só uma tinha alguma dúvida; as outras quatro acreditavam tanto no mau-olhado quanto nos seus efeitos danosos. Vamos para a Bíblia (Mateus, 21, 18-22). Jesus está com fome, vê uma bonita figueira, segue até ela para comer alguns figos. Vê, então, surpreso, que ela só tem folhas. E diz-lhe: "Nunca mais nasça fruto de ti". E a figueira secou imediatamente.
Mais adiante: "Em verdade vos digo que, se tiverdes fé, e não duvidar-des, não só fareis o que foi feito à figueira", mas muito mais. Outra coisa: usam-se contra mau-olhado amuletos (o principal deles, a figa), sal grosso, simpatias, rezas, fitinhas e outros procedimentos. Mas o mais eficaz para curar os efeitos do olho gordo são as plantas, basicamente as sete ervas, em rituais religiosos ou não, e sob três modos: a) exposição; b) banho; c) defumação. Quanto mais fumaça, melhor.

#Q:De onde vem o mau-olhado?: #
Silvia de azevedo: "Já que o vaso é um compromisso pessoal, nada melhor que a própria 'vítima' cuidar dele"
Mau-olhado vem da inveja, que é um dos sete pecados capitais, e é irmã gêmea do ciúme. Ambos são fontes de dor e frustração e ambos, quando levados a extremo, implicam tal sofrimento e desconforto que tanto ciumento quanto invejoso acabam eles próprios ficando doentes, antes mesmo de a "vítima" ser afetada.
Quem diz é o médico-psiquiatra Eduardo Ferreira Santos, do Hospital das Clínicas de São Paulo, autor de um livro sobre ciúme e síndromes correlatas, cujo consultório vive cheio de gente com "dor psicológica". O ciumento não quer perder o que tem (ou o que acha que tem); o invejoso quer ter o que o outro tem, mas sem lutar por isso. Nos dois casos, quando não conseguem, tanto ciumento quanto invejoso preferem destruir o objeto de seu desejo, advindo daí a intenção de fazer o mal e prejudicar, envolvendo-se em energias negativas e deletérias para si próprios.
Segundo o doutor Eduardo, a medicina ainda não aceita oficialmente que uma "troca de energias" entre pessoas gere um problema médico, mas observa que, em termos de pesquisa, a cada dia surgem novas explicações para a origem de doenças e sofrimentos fora dos "parâmetros oficiais".
arruda
espada-de-São- Jorge

#Q:Desde quando existe mau-olhado?: #
Existe um ramo da ciência, a Etno-Botânica, que estuda a relação das pessoas com as plantas. Perguntamos a uma etno-botânica: de onde vem essa idéia de que uma planta (ou várias plantas) podem curar uma dor psicológica ou um problema da mente?
"Isso vem do homem das cavernas", diz a professora Eliana Rodrigues, da Unifesp - Universidade Federal de São Paulo, campus de Diadema, município da chamada Grande São Paulo. "Tanto para os problemas do corpo quanto do espírito, o homem primitivo usava os recursos da natureza, era tudo o que ele tinha."
Quanto ao mau-olhado, a doutora Eliana conta que ele foi observado já entre os sumerianos, que foi a primeira civilização humana conhecida, bem antes do antigo Egito ou da China. Os sumerianos acreditavam que um estranho, passando pela aldeia, deixava algo ruim e crianças adoeciam. Atribuíam isso ao olho gordo. Na Grécia antiga, havia uma deusa, a Medusa, dona de um olhar tão forte que bastava uma pessoa encará-la para tornar-se pedra. Para evitar o mau-olhado da Medusa, devia usar-se um amuleto, o "olho grego"-a figura de um olho sobre uma base de pedra ou metal - como proteção.
Depois de ter surgido na primeira civilização, o mau-olhado hoje está presente em todas as nacionalidades, havendo, em cada língua, uma expressão equivalente: "mal'occhio" , para os italianos, "malos ojos", em castelhano, "evil eye", em inglês. Sempre significando uma coisa ruim que foi colocada pelo olhar de outra pessoa.
Não tendo uma causa material, a cura do mau-olhado também não está no mundo físico e logo alcança a religião. Em muitos ritos - catolicismo, budismo, induismo, religiões africanas, xamanismo (dos povos primitivos) -associa-se proteção espiritual à fumaça, em vários tipos de defumação, quase todas conseguidas com a queima de ervas secas, preferencialmente aromáticas.
"E aí acontece uma coisa muito interessante" , diz a etno-botânica. "A ciência oficial está descobrindo agora que as plantas que são usadas para a defumação - as aromáticas, sobretudo - têm em seu óleo essencial um efeito ansiolítico, acalmando as pessoas e devolvendo a elas o equilíbrio perdido ou prejudicado por uma dor psicológica ou uma aflição."
Quer dizer, as pessoas angustiadas que vão atrás de uma defumação de fundo religioso para se aliviar de um sofrimento de causa espiritual (tipo mau-olhado) acabam recebendo, junto com sua fé, uma medicação ansiolítica equivalente àquela que o psiquiatria lhes daria no consultório. E mais barato, se não for de graça... E sem precisar engolir um comprimido que pode fazer mal ao estômago e até produzir úlcera. 
alecrim
pimenta


A herborista Silvia Bueno de Azevedo dá o passo a passo para quem quer fazer o próprio vaso. A primeira condição é reunir as sete mudinhas bem saudáveis, de preferência com o mesmo tamanho.


1>>>Pegar um bom vaso de barro, revestido de plástico por dentro, com um furo no fundo (para drenagem da água);

2>>>Cobrir esse furo com um caco de telha, para ele não entupir;

3>>>Pôr uma camada (de uns três centímetros) de pedregulho de pedreiro (ou pedra parecida);
4>>>Uma camada de areia de construção para cobrir as pedras;

5>>>A camada de terra que vem em seguida deve ser bastante porosa e fértil (de preferência orgânica ou com húmus de minhoca) e ter um pouco de areia para não haver compactação;

6>>>Colocar as mudas, que devem ficar pelo menos um dedo abaixo da borda do vaso;

7>>>A "arquitetura" , com a posição das ervas, deve levar em conta que a comigo-ningué m-pode, bem invasiva, tende a crescer para os lados. Deve então ficar do lado oposto à espada-de-são- jorge, que também é invasiva e precisa ser sempre desbastada. Arruda vai no meio do vaso. Se a gente imaginar uma cruz atravessando o vaso, num ponto da cruz vai o comigo, no lado oposto, a espada. Na outra linha da cruz, num ponto vai o alecrim, que gosta pouco de água. No outro, o manjericão, mais favorável à umidade. A pimenta deve ficar entre o alecrim e a espada, enquanto a guiné se coloca entre a espada e o manjericão. Colocar terra só até o nível da raiz (sem encobrir o caule), regar bastante e cuidar. Um vaso de 7 ervas bem cuidado dura de um ano e meio a dois anos, e pode ir sendo renovado com substituição das mudas que vão fenecendo (como pimenta). Deixado à vontade, depois de certo tempo um vaso-7 fica só com três plantas: espada, comigo e guiné (ou alecrim). As outras desaparecem.

A agrônoma Sandra Rossino ganha sua vida no meio das flores. Ela é uma das pessoas que cuidam, sob orientação do doutor Catarino, da coleção de 18 mil orquídeas do Jardim Botânico de São Paulo - este, sempre limpo e bonito. Mas a doutora Sandra tem um gosto especial: criar "canteiros espirituais" , como ela chama a plantação de uma área com as sete ervas que curam mau-olhado. Ultimamente, porém, ela mudou o conceito para uma "mini-horta de cura".
"Se a pessoa tem terreno para plantar as sete ervas, basta um pequeno esforço adicional para ter em casa uma coleção muito útil de plantas medicinais, acrescentando às sete pelo menos três espécies de uso quase diário: boldo, capim-limão e melissa", diz.
Boldo é aquela coisa boa para se tomar, num macerado com água fria ou gelada, após uma refeição pesada ou depois de ter comido alguma coisa que se está mostrando incômoda no estômago ou de difícil digestão. Capim-limão, em alguns lugares também chamado de erva cidreira de folha fina, bom para chá, é aromático, purificador, deixando sempre uma sensação de bem estar. E a melissa, também para chá, tem efeito calmante e tranqüilizador.
Na hora de fazer o canteiro, Sandra recomenda um bom preparo da cova (já com esterco de gado ou terra orgânica), distância de 80 centímetros entre uma muda e outra e só deixar terra até a altura da raiz, sem encobrir o caule. Regar bastante no primeiro dia, seguir com água depois, renovar adubação em 15 dias e cuidar bem, evitando as plantas invasoras. Com essa hortinha no terreiro, diz ela, a pessoa estará se protegendo do olho gordo e ainda terá pelo menos essas três espécies medicinais tão úteis.
manjericão
comigo-ningué m-pode

Vai, porém, que a pessoa não tenha espaço para um canteiro e, ainda assim, queira ter em casa as sete ervas ou algumas delas individualmente. Nas cidades grandes e médias, os viveiros de mudas, os grandes supermercados e os "garden center" têm, para venda, tanto os vasos prontos quanto as mudas, uma por uma.

Jade Andrade, gerente do Garden Center Tatuapé, em São Paulo, diz que saem, por semana, de seu estabelecimento, de 250 a 300 vasos prontos (com as sete ervas) e de 1,5 mil a 2 mil mudinhas individuais. Mudas a 1 ou 1,50 real. Vasos, dependendo do tamanho e da altura das mudas, de 11 a 60 reais.
Ativa e bonita, Silvia Bueno de Azevedo é dona de um viveiro de mudas "espirituais" ao lado da Marginal do Tietê, SP. Além de seu trabalho, conta com três empregados para dar conta de produzir as plantas, que fornece semanalmente a um "garden center" da capital paulista . Ela diz que as pessoas têm um gosto particular em fazer, elas mesmas, seu vaso de 7 ervas, e se dispõe a ensinar (veja quadro abaixo).
"Já que o vaso é um compromisso pessoal, nada melhor que a própria 'vítima' para cuidar dele", comenta Silvia.
A botânica mágica das 7 ervas
1>>>COMIGO-NINGUÉ M-PODE
Há mais de 100 variedades de plantas (tipo um antúrio) com esse nome. No Brasil, é a planta básica das 7 ervas; em Belém do Pará, segundo pesquisa recente, está presente em quase 50% das casas. As manchas brancas no meio das folhas são um aviso de perigo aos herbívoros: "Não me coma".
Comigo-ningué m-pode é planta tóxica, com efeitos dolorosos caso alguém ponha na boca, não precisando nem engolir. Basta a mastigação de um pedaço para provocar imediata reação. Em pessoas alérgicas, o simples contato com a folha é suficiente para fazer mal. Particularmente perigosa em local com criança.
"É o tipo da planta para não se ter em casa", diz o professor Marcos Furlan.
2>>>ESPADA-DE-SÃO- JORGE
Se a primeira contém risco, essa espada não faz mal a ninguém. Muitos até a utilizam com fins medicinais, pondo-a como escora em baixo do colchão para corrigir defeito de coluna. Embora não seja de origem africana, foi de tal modo adotada nos ritos afros que hoje é, neles, presença obrigatória. Planta rústica, dá-se bem em qualquer lugar e nos vasos vai tomando espaço, dependendo de contínuo desbaste para ser contida e não sufocar as outras.
3>>>GUINÉ (PITI)
Originária da floresta amazônica, a guiné acabou sendo levada para a África, onde ganhou o nome de "planta do Congo". Os escravos, no Brasil, cedo notaram que a guiné contem um princípio venenoso, que acabaram usando em poções para enfraquecer senhores que se mostravam especialmente cruéis ou que abusavam da mulher ou das filhas dos cativos. Esse uso deu à guiné um apelido: "amansa patrão".
O veneno é muito fraquinho, de forma que, para fazer efeito, devia ser ministrado por muito tempo, o que levava a uma observação contínua do estado físico do senhor para ver se ele já estava emagrecendo, ficando amarelo, fraco, para confirmar que a poção estava funcionando direito...
4>>>ARRUDA
Das sete ervas rituais, a arruda é, ao lado do alecrim, a mais antiga. Nativa da região do Mediterrâneo, tem várias citações na Bíblia, como em Lucas (cap. 12, vers. 42) em que é tratada como moeda, servindo - junto com a hortelã - para pagar dízimo.
Diz um samba antigo: "Se eu fosse você/punha um galhinho de arruda atrás da orelha/pra não matar esse encanto/que é doce como mel de abelha/Todo mundo lhe olha,/você pega um mau-olhado.. .". Se veio da Europa, a arruda ganhou no Brasil esse costume de ser colocada na orelha. No tempo do Império, havia, como pode ser visto num quadro de Debret, um forte comércio de arruda no Rio de Janeiro, então capital federal. Esse uso espalhou-se pelo Brasil.
5>>>MANJERICÃO
Vindas da Ásia e da Europa, há no Brasil perto de 100 variedades de manjericão, também chamado de alfavaca ou basílico. É uma planta aromática e comestível, muito valorizada em certo molho de macarrão (al pesto).
Todos os manjericões dão flores com muito néctar, o que faz a festa das abelhas.
6>>>ALECRIM
Como a arruda, muito referido em textos antigos, antes até da Bíblia. Evangelhos não reconhecidos afirmam que o alecrim tem três "coincidências" com a vida de Jesus:
1. a planta só vive 33 anos, idade de Cristo;
2. sua altura máxima é também a do messias;
3. os olhos de Jesus, de um tom azul-claro, são da cor da flor do alecrim.
O botânico Marcos Furlan diz que, em sua experiência como pesquisador, nunca viu um pé de alecrim durar mais de 20 anos, já viu planta com dois metros e meio de altura e, quanto aos olhos de Cristo, nunca soube de fonte segura de que cor eles eram.
Planta aromática, o alecrim já serviu para dar sabor especial a vinhos e é uma das preferidas para produzir fumaça em defumações rituais.
7>>>PIMENTA
A pimenta é retoricamente o último bastião de um conjunto de sete ervas, de tal modo que, para morrer, é preciso que a mandinga seja mesmo forte. Só um mau-olhado excepcional seria assim tão nefasto para se transformar num "seca-pimenteira" . Rústica e resistente, a pimenteira não é, no entanto, a última a morrer num vaso de sete. Ela tem um ciclo vital determinado e, cumprido esse tempo, ela fenece, enquanto, a seu lado, estão ainda vigorosos o alecrim, a comigo e a espada-de-são- jorge, que normalmente são as três sobreviventes de um vaso originalmente com sete mudas. Há uma grande variedade de pimentas, mas as que mais se usam num vaso 7 ervas são cumari, dedo-de-moça e pimenta-de-bode.


MAILDE DE JESUS , diante de sua casa em Buritis, MG, tirando "quebrante" de uma menina
A benzedeira Mailde F. de Jesus, de Buritis, no Vale do Urucuia, Minas Gerais , diz que tem enfrentado com êxito os casos de mau-olhado. Mais em crianças, onde vem com nome de quebrante. Em gente adulta, dizem olho gordo, quebreira, quebradeira de vontade, quebra-de-olho.
Dona Mailde, que tem um irmão, o Seu Deco, que benze fazenda para as cobras se afastarem, usa um raminho de uma das sete ervas (geralmente alecrim) para fazer com ele o sinal da cruz na pessoa em benzimento. E reza esta oração, que ela própria criou (ou adaptou):
"Quebrante sai do tutano/Do tutano sai pro osso/Do osso sai pro sangue/Do sangue sai pro couro/Do couro sai pro cabelo/Sai quebrante de [nome da pessoa]/Vai pras águas do mar/Pra onde não canta galo nem galinha/E nem ser vivente nenhum a falar."
Seguem-se três pais-nossos e três ave-marias, sendo a benzedura, ela inteira, repetida três vezes.
manjericão
"Geralmente não cura na primeira vez", diz D. Mailde. "Mas da terceira não passa."
Nos rituais afro (umbanda, candomblé) as plantas são usadas ou para banho ou para defumação. No banho, a pessoa macera a erva fresca numa água fria e esparge pelo corpo, do pescoço para baixo. Uma boa condição é não se enxugar com toalha, deixando o banho secar por si próprio no corpo.
A defumação é mais animada, pois é feita por um pai-de-santo, devidamente "incorporado" e sob ritmado som de atabaques e coral das "filhas da roça".
Porém, tudo depende, dizem os entendidos, da fé da pessoa. O pai-de-santo Francisco Tenente, de Santo Amaro, São Paulo, afirma que há três condições para que um mau-olhado faça mal a um inocente. Dessas três condições, só uma - a "prevenção"-depende da vítima, que a obtém através de banho, defumação e reza. As outras duas estão na mão do inimigo. Diz ele: "As três condições para um olho gordo pegar são: 1. a pessoa que vai mandar o mau-olhado estar "bastante carregada" de energia negativa; 2. ter intenção de fazer o mal; 3. a pessoa que vai receber o olho-gordo estar desprotegida, desamparada, sem apoio das entidades ("Aí, o feitiço pega mesmo").
Assim, diz Francisco Tenente, cabe a cada um de nós cuidar de nos fortalecer espiritualmente, para evitar o efeito de qualquer mandinga, independente da má intenção dos outros.
É como diz o velho ditado, afirma ele: "Praga de urubu não mata boi gordo...".

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